Apresento-vos a nossa terceira
entrevista. O autor escolhido foi o Pedro Barrento, que tem, neste momento,
apenas um livro publicado. O livro, que se chama “O Príncipe e a Singularidade
– Um Conto Circular”, já foi criticado anteriormente aqui no blogue e podem ler
a opinião Aqui.
O Pedro Barrento nasceu em
Moçambique à 51 anos atrás, frequentou a escola em Lisboa e é licenciado em
Direito. Por volta dos 33 anos, ele decidiu que havia mais na vida do que ser
advogado e tentou a sua sorte em vários negócios, sendo que o mais bem-sucedido
foi uma companhia que produz e gere bandas de rock. Há um ano atrás decidiu
pegar novamente num hobby esquecido
há muito tempo: escrever. Começou com um blogue dedicado principalmente a
sátira política e, encorajado pelo feedback que recebeu no blogue, decidiu
tentar escrever um livro.
1
– Como te sentiste quando o teu primeiro livro foi lançado?
R: O meu primeiro livro não foi “lançado” no sentido
tradicional do termo, dado que está editado em self-publishing através da Amazon, Smashwords, Createspace, Barnes
& Noble, etc. Quando fiz upload
para a Amazon, senti-me completamente exausto.
2
– Qual foi a tua inspiração?
R: O livro não tem uma
inspiração clara, porque eu nunca decidi escrever um livro sobre um determinado
assunto. Eu fui tendo ideias para pequenas partes, que foram surgindo e sendo
escritas de forma não sequencial (p.e., cap. 1, 2, 9, 12, etc.).
A certa altura comecei a
acreditar que era possível ligar todas aquelas partes que tinham sido escritas
em separado, de forma a que se transformassem num livro com um princípio, meio
e fim e com uma mensagem coerente.
Até hoje ainda não
consegui perceber como foi possível escrever um livro, partindo de uma “manta
de retalhos” não sequencial e sem uma definição prévia do que iria ser a
história e a mensagem.
Vou tentar explicar a
forma quase inverosímil como o livro foi escrito.
Se fores ao meu blog, que contém basicamente sátira
política, vais encontrar um conto chamado “Um Conto Medieval” (Aqui), que é uma sátira aos
acontecimentos do 1º de Maio de 2012, com a cadeia de supermercados Pingo Doce.
Esse texto, por exemplo, acabou por se transformar, com pouquíssimas
alterações, no capítulo 22 do livro, onde tem um significado completamente
diferente do original, apesar de os textos terem poucas diferenças.
O começo do livro, em que
os deuses jogam a sua divindade às cartas, era inicialmente um texto curto, com
duas ou três páginas, que satirizava simultaneamente a crise política europeia
e (acreditem ou não) a falta de sardinhas que houve nos santos populares de
2012.
Eu sei que isto parece
impossível, para quem leu o livro, mas parte do texto sobre as sardinhas foi
reciclada e transformou-se no começo do livro.
Foi quando eu estava à
beira de colocar esse texto no meu blog,
que subitamente comecei a ter outras ideias e pensei para comigo que aquele
começo era demasiado bombástico para ser desperdiçado numa brincadeira sobre
política e sardinhas.
Seguidamente, escrevi o
capítulo 9, que se passa num parque de estacionamento, em finais do séc. XX (ou
séc. XXI, não sei) e a seguir escrevi o capítulo 12, que fecha a primeira parte
do livro.
Quem leu o livro sabe que
os cap. 1, 2, 9 e 12, encarados separadamente, não têm nada que ver uns com os
outros. Milagrosamente, acabaram por ser conjugados numa história (quase)
coerente. Depois de ter escrito os capítulos todos até ao 12 achei que tinha
escrito uma “short story”, e a coisa
esteve parada durante uns dias (ou umas semanas, não tenho a certeza).
Finalmente, decidi transformar
a “short story” num livro e escrevi o
capítulo 13, que faz a transição para a segunda parte. Depois escrevi o
capítulo 23, que dá ideia do que vai ser o fim do livro e que foi o capítulo
mais fácil de escrever. Simplesmente tive uma visão de uma “doomsday landscape”, com a Senhora dos Corvos no cimo da montanha, e comecei
a escrever o que estava a ver.
Respondendo
concretamente à tua pergunta, e como já deve estar claro, depois desta
explicação toda, não houve uma inspiração específica para o livro, eu
simplesmente fui descobrindo o que era o livro à medida que o escrevia.
3
– Quem mais te apoiou na escrita do livro?
R: Inicialmente, ninguém.
O livro foi um ato solitário, iniciado e escrito maioritariamente durante um
período de dois meses em que estive sozinho em casa. Aliás, eu só consigo
escrever quando estou sozinho.
Depois
do rascunho inicial, o livro teve a grande ajuda da Lynn Curtis (site oficial Aqui), que trabalhou quase de graça,
da Teresa Frederico, que reviu o texto português de graça, do Sandro Marques
que foi lendo os rascunhos e dando umas dicas e só me conhecia do Facebook, e
de algumas pessoas que fizeram rascunhos para a capa, apesar de não serem as
autoras da capa final (Paula Soto Maior e Fernanda Gil).
4
– Já consegues pensar em ti como escritor?
R: Eu consigo, mas isso só se concretiza se o resto da sociedade achar
que eu sou escritor. Tirando as opções de “asceta em gruta” quase tudo no nosso
mundo depende de feedback social.
5
– Como te descreverias em três palavras?
R: Solitário, sonhador e irascível.
6
– Já estás a trabalhar num próximo livro? Se sim, quando tencionas acabá-lo e
publicá-lo?
R:
Tenho partes de um segundo livro a surgir na minha mente. Duvido muito que o
escreva se este primeiro livro não tiver um grau mínimo de sucesso. Por uma questão
de feitio, eu sou incapaz de fazer seja o que for sem um determinado grau de
qualidade formal, o que quer dizer que tenho uma quantidade razoável de
dinheiro investida neste livro, principalmente na versão inglesa (revisões, literary consultacy, etc.). Se este
livro não pagar esses investimentos e o ano inteiro que gastei a escrevê-lo e a
promovê-lo, duvido muito que o segundo livro chegue ao papel, pela simples
razão de que não sou suficientemente rico para investir em livros que não se
paguem a si próprios.
7
– Se as pessoas quiserem comprar o teu livro, O Príncipe e a Singularidade – Um
Conto Circular, onde o podem fazer?
R: Seguem-se os links
para as versões digitais e em papel, em inglês e em português. O primeiro link é para a Amazon USA, onde se
encontra a maior parte das reviews ao
livro, mas que não é o melhor link
para adquirir o mesmo, dado que, a partir de Portugal, fica mais barato comprar
na Amazon UK:
Dou
assim por terminada esta entrevista. Desejo-te muita sorte
para a tua carreira, que ainda está apenas no início! O blogue, os leitores e
eu agradecemos a tua disponibilidade. Continua o bom trabalho!